Saturday, January 13, 2007
O alumbramento do olhar para TV num domingo
Ah, eu te amo, e como amo, se é que amo alguém, amo tanto, e acho que de amor me explodo, explodirei, enfim, com você perto de mim e nossas bocas e coxas e mãos e sentidos, nossas peles, o ar, a expiração, a inspiração, a respiração, o trabalho, o cansaço, a lua, a lua, a lua!, suas mãos, pequenas, sobre as minhas, sua arrogância e meu olhar de desprezo, minha força, meu domínio, sua subjugação, nossa prepotência. Nossas cores, nossos gostos, nossos gozos e os alheios. Os medos e os receios, os remorsos e os anseios. As noites claras, os dias fugazes, a cama, a lama, o caos, o chão, o corpo, o entulho, o escuro, a paixão. Minha alma resplandece, seu olhar te denuncia, nos rendemos, enfim, ao que já sabíamos, e não temíamos, apenas jogávamos e nunca havia um vencedor. Não há perdedor em nosso jogo, há dominação e amor e prepotência e paciência. E há, e falta, e falta reconhecimento. Pois do sereno nasce a flor, é como um cais ao pôr-do-sol preocupado com os navios que não atracam. E se atracamos, não nos atraquemos mais; o calor que não pode esperar, o olhar aflito e as mãos trêmulas de ansiedade perante o porvir - e o pôr-do-sol, onde é que estava, de onde veio? Não importa o tamanho das ondas ou das ondulações, oscilações, exageros; o que importa são seus dedos pelos cachos dos meus cabelos. É pra me fazer sentir o ali, o instante do ali, de nós, entregues, sem tempo, espaço, pudor, moral, rejeição, recolhimento, traição, competição. Somos nós. Sou eu. É você. Sou você. E os que virão depois de nós.
Monday, January 08, 2007
A internet e o espetáculo (parte I)
A Internet é o mais contemporâneo paradoxo. É, simultaneamente, o lugar onde muitas pessoas sentem-se incrivelmente à vontade, e um permanente não-lugar – a partir daí, torna-se ponto de não-retorno. Talvez pela intimidade e hospitalidade, por um lado, da rede poder fazer sentir(-se/lhe), seja despertado o sentimento – ou o sentido – de liberdade individual inalienável e quase que incondicional. Talvez por estarem no conforto de seus lares e protegidas por uma membrana (in)transparente, as pessoas – ou melhor, os internautas – sintam-se tão à vontade para mostrarem-se nus perante seus companheiros – e a intenção da frase era metafórica, mas o literal também se a carapuça serviu... A questão é se se mostram de fato, inteiros, íntegros e intrínsecos àquilo que são, ou se criam personas, personagens e facetas, inspirados em seus melhores, piores ou (im)possíveis.
Pois bem, o buraco é muito mais embaixo. Caímos no relativismo da discussão sobre o ser. Eu, particularmente, acredito que não somos; estamos. E, por estarmos, somos quase que polivalentes, ou multifacetados, ou divisíveis. É o constante estado de estar o responsável pela instabilidade de muitas mentes internéticas e perfis de orkut – vide os constantes ‘orkuticídios’ cometidos. Entretanto, a discussão entre o ser e o estar é convergente se comparada à já também exaustivamente discutida questão de regressão – à medida que desenvolvemo-nos – entre o ser/estar e o ter.
Li ontem na folha Mais! Um excelente artigo no qual o autor aprofunda essa digressão e faz-nos (de)cair: hoje, em nossa ocidentalóide sociedade, o que impera não é mais sequer o ter: é o parecer. Nesse sentido, completamos nosso esquema e a Internet torna-se extremamente lógica: é lá que criaremos nossas diferentes personas, é para lá que transportaremos nossas frustrações e as dividiremos e acharemos graça. É na Internet que as pessoas fogem da solidão e se masturbam simultaneamente diante de uma webcam. É lá que preconceitos nazistas, racistas e homofóbicos se espalham. Talvez a criatura tenha vencido o criador e, de fato, o homem tenha tornado escravo de seu caráter patético, o qual é devastadoramente inflado pela Internet.
Guy Debord escreveu, em 1992, um livro fascinante chamado “A sociedade do espetáculo”, no qual teoriza que “toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação”, e explica: “do automóvel à televisão, todos os bens selecionados pelo sistema espetacular são também armas para o reforço constante das condições de isolamento das “multidões solitárias”. Pá-bum: a internet, o espetáculo.
Pois bem, o buraco é muito mais embaixo. Caímos no relativismo da discussão sobre o ser. Eu, particularmente, acredito que não somos; estamos. E, por estarmos, somos quase que polivalentes, ou multifacetados, ou divisíveis. É o constante estado de estar o responsável pela instabilidade de muitas mentes internéticas e perfis de orkut – vide os constantes ‘orkuticídios’ cometidos. Entretanto, a discussão entre o ser e o estar é convergente se comparada à já também exaustivamente discutida questão de regressão – à medida que desenvolvemo-nos – entre o ser/estar e o ter.
Li ontem na folha Mais! Um excelente artigo no qual o autor aprofunda essa digressão e faz-nos (de)cair: hoje, em nossa ocidentalóide sociedade, o que impera não é mais sequer o ter: é o parecer. Nesse sentido, completamos nosso esquema e a Internet torna-se extremamente lógica: é lá que criaremos nossas diferentes personas, é para lá que transportaremos nossas frustrações e as dividiremos e acharemos graça. É na Internet que as pessoas fogem da solidão e se masturbam simultaneamente diante de uma webcam. É lá que preconceitos nazistas, racistas e homofóbicos se espalham. Talvez a criatura tenha vencido o criador e, de fato, o homem tenha tornado escravo de seu caráter patético, o qual é devastadoramente inflado pela Internet.
Guy Debord escreveu, em 1992, um livro fascinante chamado “A sociedade do espetáculo”, no qual teoriza que “toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação”, e explica: “do automóvel à televisão, todos os bens selecionados pelo sistema espetacular são também armas para o reforço constante das condições de isolamento das “multidões solitárias”. Pá-bum: a internet, o espetáculo.
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