Sunday, March 30, 2008

Círculos, espirais, amargor e doçura

Um desconhecido parou bem em frente a mim, na madrugada, me estendendo a mão. Eu não soube o que fazer. O que são contatos físicos, hoje, na brasilidade? Entre quem beijos, abraços e apertos de mão são passíveis de aceitação, inofensivos e quiçá desejados?
E pontapés, aforismos, ofensas, injúrias, calúnias, fobias?
Notar os apesares de: a gente gira na mesma órbita e não se comunica. Se não gira, sequer se encontra. Os desencontros anulam o amargor, mas não trazem a doçura do compartilhar.
É uma questão de flutuar, oscilar e saber apaziguar. Quase esperar.

Sunday, March 16, 2008

Sincronicidade

... é o tempo mudar assim, bruscamente.
Calor de 38 graus às seis da tarde, não mais.
Agora é domingo e chuva. E muito café.
(Espirros e pé gelado; cadê o cobertor?)

Friday, March 14, 2008

Sexta-feira chuvosa.

Os meses pingam
encontram-se
aglomeram constroem cultivam criam! sentidos.

É o café, o chá,
as mãos frias,
as mãos quentes,
os espantos (mundos atordoam
e cegam e praticam a desmesura do que clamam
[alteradamente
de maneira que não entendo).

O abraço dissipa o cinza.
Quero cores definidas.
O beijo me lembra inteira,

presente excesso cais e o barco!,
no mais é tudo e somos
vida estrada carinho alento
saliva. Flor, contentamento.

Sunday, March 02, 2008

Breve ensaio (e sobre a gratidão)

Ensaio não é aglomerado de palavras; é treinar, experimentar e cada vez descobrir um novo ou uma nova. Não o novo ou a nova, porque nova e novo são indefinidos por definição. Este ensaio é breve por ser quase apenas os primeiros minutos de uma valsa, a Valsa dos cisnes ou o Danúbio, embora levemente contemporaneizados. Não-livres de clichês, contudo, pois embora as atualizações (forçadas e genuínas) aconteçam de maneira cada vez mais forte, há que se manter a beleza das valsas, o oscilar lânguido e perfeito e o semi-cerrar de olhos tão bem encaixado(s).
A gratidão pode ser tão bonita quanto a valsa, quando nela (digo, na valsa) não se espera um salão nobre ou baile de máscaras para encerrar grandiosidades medíocres ou fracassos. A gratidão pode ser a valsa bonita que soa com o caminhar sobre o gramado em dia de sol não tão quente, o ritmo cardíaco e a respiração em compassos que até o padre duvida.
Gratidão não se ensaia - embora os ensaios também contenham dose cavalar de improviso, emoção e doação genuína (e quando me refiro ao genuíno, não nego a construção, a história, os pesares e pensares). Gratidão explode, ainda que tímida; gratidão derrama lágrimas e sorrisos e beijos e abraços e sal e doçura. Gratidão não é quando nem como, gratidão é e é deixar ser e estar. Consciente e confortavelmente, sentir-tocar.