É. Cinzas.
Tem gente que acredita que tem um pássaro, uma tal de fênix, que renasce delas.
Eu não sei se acredito.
Wednesday, February 21, 2007
Monday, February 05, 2007
C.R.A.Z.Y. diamond, shine on
“This is Major Tom to Ground Control.
I'm stepping through the door,
I'm stepping through the door,
and I'm floating in a most peculiar way.
And the stars look very different today.”
A coragem de olhar o mundo sob outro ponto de vista, expressa especialmente nesse trecho de “Space Oddity”, de David Bowie, é um dos assuntos predominantes em “C.R.A.Z.Y. - Loucos de amor”, de Jean-Marc Vallée. Zachary Beaulieu, quando dubla o clássico de Bowie – em fase Ziggy Stardust, no auge dos anos 1970 – vestido e maquiado como tal, escancara-se ao mundo – ou ao menos à sua vizinhança – por ter deixado aberta a janela do quarto, palco principal das epifanias adolescentes.
O garoto é o sétimo filho da família Bealieu, mas tem quatro irmãos – três foram abortados. E de acordo com as superstições canadenses – que têm suas correspondentes na cultura brasileira, como o mito bem divulgado em histórias do Chico Bento, de Maurício de Souza, de que o sétimo filho tende a tornar-se lobisomem –, sua mãe acredita que ele tem um dom. Soma-se a isso o nascimento do menino no dia 25 de dezembro e sua capacidade de acalmar o choro dos bebês com cólicas quando os segura.
Nascer no Natal é experiência traumática para as crianças, desde cedo imersas na lógica capitalista: é o fim do mundo receber apenas um presente no combo “Natal+aniversário” enquanto todos os amigos recebem dois ao longo do ano. Como se não bastasse, não é permitido a um menino ganhar um carrinho de bonecas. Pergunta-se a uma menina porque ela ganha bonecas, e não bola de futebol. Ela responde, naturalizando: “Porque eu gosto de bonecas. E bola é coisa de menino.” E ela não deve gostar de “coisas de menino”. Poda-se o interesse genuíno e inocente de menino por bonecas. No filme, o pai de Zac tenta contornar a situação, dando-lhe de presente uma vitrola, um banjo, uma bateria... E vê-se formada a banda completa antes mesmo do garoto completar dez anos de idade.
Conforme cresce, Zac vive um romance com uma amiga, para tentar enquadrar-se ao permitido e fugir de seus desejos por “coisas de meninas”. A homossexualidade do rapaz é percebida, mas não aceita pela família – principalmente pelo pai. O orgulho viril masculino de ter concebido cinco filhos homens não pode ser atacado nem desconstruído dessa maneira. A dependência química de Raymond, irmão mais velho de Zac, é mais facilmente aceita pelo pai do que o desonroso filho homossexual.
“Há dois tabus aqui em casa. Eu e Raymond.”, diz Zachary. Poderia ter dito: “as drogas e a homossexualidade”, mas ao personificar e, conseqüentemente, fundir o tabu às respectivas personas estampa um significado de irreversilibidade e aceitação dos fatos e características intrínsecas aos dois. Caberia, então, a todos, lidarem com o que não tem remédio.
A relação do menino com a mãe também é emblemática, e caricatura as mães compreensivas e mediadoras dos conflitos domésticos. O filme ultrapassa o lugar-comum de famílias de classe média e suas crises burguesas quando Zac, num ímpeto, vai para Jerusalém buscando uma espécie de retiro e compreensão de si mesmo. Mas a escolha do lugar para a viagem é fruto de influência direta da mãe, católica fervorosa, que sonhava em conhecer a terra santa. É nessa terra santa, enfim, onde Zac vive uma paixão homossexual e se entrega – com o perdão do trocadilho – aos pecados da carne. Agoniado, telefona para a mãe. Ela sabe que é o filho ao telefone, bem como sabe da inquietude do menino, como bem o sabem sempre, as mães. Segue-se uma das mais belas cenas, quando Zac, descoberto, por fim, deixa o quarto e, no amanhecer, vislumbramos um corpo masculino, por fim, semi-coberto espreguiçando em sua cama.
O diretor consegue, ainda, transmitir beleza original e espontânea a cada cena. O figurino, os carros, o Canadá dos anos 1970, a capa de “The dark side os the moon”, álbum clássico pink floydiano desenhada na parede do quarto de Zac e a trilha sonora também composta de clássicos de Rolling Stones e dos já citados Bowie e Floyd são expressões muito bem desenvolvidas do momento histórico.
A coragem de olhar o mundo sob outro ponto de vista, expressa especialmente nesse trecho de “Space Oddity”, de David Bowie, é um dos assuntos predominantes em “C.R.A.Z.Y. - Loucos de amor”, de Jean-Marc Vallée. Zachary Beaulieu, quando dubla o clássico de Bowie – em fase Ziggy Stardust, no auge dos anos 1970 – vestido e maquiado como tal, escancara-se ao mundo – ou ao menos à sua vizinhança – por ter deixado aberta a janela do quarto, palco principal das epifanias adolescentes.
O garoto é o sétimo filho da família Bealieu, mas tem quatro irmãos – três foram abortados. E de acordo com as superstições canadenses – que têm suas correspondentes na cultura brasileira, como o mito bem divulgado em histórias do Chico Bento, de Maurício de Souza, de que o sétimo filho tende a tornar-se lobisomem –, sua mãe acredita que ele tem um dom. Soma-se a isso o nascimento do menino no dia 25 de dezembro e sua capacidade de acalmar o choro dos bebês com cólicas quando os segura.
Nascer no Natal é experiência traumática para as crianças, desde cedo imersas na lógica capitalista: é o fim do mundo receber apenas um presente no combo “Natal+aniversário” enquanto todos os amigos recebem dois ao longo do ano. Como se não bastasse, não é permitido a um menino ganhar um carrinho de bonecas. Pergunta-se a uma menina porque ela ganha bonecas, e não bola de futebol. Ela responde, naturalizando: “Porque eu gosto de bonecas. E bola é coisa de menino.” E ela não deve gostar de “coisas de menino”. Poda-se o interesse genuíno e inocente de menino por bonecas. No filme, o pai de Zac tenta contornar a situação, dando-lhe de presente uma vitrola, um banjo, uma bateria... E vê-se formada a banda completa antes mesmo do garoto completar dez anos de idade.
Conforme cresce, Zac vive um romance com uma amiga, para tentar enquadrar-se ao permitido e fugir de seus desejos por “coisas de meninas”. A homossexualidade do rapaz é percebida, mas não aceita pela família – principalmente pelo pai. O orgulho viril masculino de ter concebido cinco filhos homens não pode ser atacado nem desconstruído dessa maneira. A dependência química de Raymond, irmão mais velho de Zac, é mais facilmente aceita pelo pai do que o desonroso filho homossexual.
“Há dois tabus aqui em casa. Eu e Raymond.”, diz Zachary. Poderia ter dito: “as drogas e a homossexualidade”, mas ao personificar e, conseqüentemente, fundir o tabu às respectivas personas estampa um significado de irreversilibidade e aceitação dos fatos e características intrínsecas aos dois. Caberia, então, a todos, lidarem com o que não tem remédio.
A relação do menino com a mãe também é emblemática, e caricatura as mães compreensivas e mediadoras dos conflitos domésticos. O filme ultrapassa o lugar-comum de famílias de classe média e suas crises burguesas quando Zac, num ímpeto, vai para Jerusalém buscando uma espécie de retiro e compreensão de si mesmo. Mas a escolha do lugar para a viagem é fruto de influência direta da mãe, católica fervorosa, que sonhava em conhecer a terra santa. É nessa terra santa, enfim, onde Zac vive uma paixão homossexual e se entrega – com o perdão do trocadilho – aos pecados da carne. Agoniado, telefona para a mãe. Ela sabe que é o filho ao telefone, bem como sabe da inquietude do menino, como bem o sabem sempre, as mães. Segue-se uma das mais belas cenas, quando Zac, descoberto, por fim, deixa o quarto e, no amanhecer, vislumbramos um corpo masculino, por fim, semi-coberto espreguiçando em sua cama.
O diretor consegue, ainda, transmitir beleza original e espontânea a cada cena. O figurino, os carros, o Canadá dos anos 1970, a capa de “The dark side os the moon”, álbum clássico pink floydiano desenhada na parede do quarto de Zac e a trilha sonora também composta de clássicos de Rolling Stones e dos já citados Bowie e Floyd são expressões muito bem desenvolvidas do momento histórico.
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