Sunday, August 07, 2005

Manuel Bandeira

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare


— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

4 comments:

Angélica B. M. said...

Eu gosto desse poema..
é no minimo interessante observar as diversas visões que os poetas tem sobre a poesia! Admiro todas elas, pelo menos a maioria, rs...
Beijos!!!

Anonymous said...

Lendo libertinagem? hehe

é das melhores poesias do livro =]
bjoo

Anonymous said...

Eu passei o dia com esse poema na cabeça!
E ai encontro ele por aqui!
Agradável surpresa =)
Bju

Anonymous said...

Eu gostava de Manoel Bandeira, mas aí esqueci dele, e depois que lembrei que esqueci, pensei que gostava dele porque gostava de me sentir mal.

às vezes sofrer é até gostoso, quando a gente é bem egoísta.

(lembrei de você ouvindo Coldplay.. to te devendo aquelas músicas)

Aonde foi com meu sapato que não voltou mais..? )-:

beijos!

Gustavo