Thursday, August 14, 2008

Notas a partir de "Fool for love", de Robert Altman

(Filme baseado na peça de teatro homônima de Sam Shepard).

1. O silêncio é leve e pesado.
2. Ao omitir a última fala da peça de teatro, a intenção do diretor me parece ser manter a história aberta. A última cena é a May caminhando pela estrada, imagem ampliando até a imensidão e ela se dissolvendo no cenário. A indefinição como sentimento e sensação sem dúvida objetivados ali são cerne do filme.
3. Tenho a impressão de que os finais 'abertos' nos filmes começam a ser recorrentes. Ou, pelo menos, a ganhar espaço. Isso se deve a i) a problemática da narrativa destruída (em termos superficialmente benjaminianos) ser assumida pelos diretores, que não sabem como resolver e, enfim, 'o que não tem solução...'?
4. Ou a ii) maior desejo de proximidade entre espectador e ator/diretor/filme, na tentativa de não subestimar o público?
5. (Estou sendo demasiado otimista? Para contrabalancear, então:)
6. iii) A impressão de recorrência do recurso 'final aberto' nos filmes não passa de ilusão; o que há é, de fato, a mais cruel ação (se mal-intencionada ou não, não sei dizer) de desindividuação do espectador a partir de histórias supostamente universais. O que há é o nivelamento a partir de critérios grosseiramente pré-estabelecidos para o sucesso de público.
7. Não é bem assim. Recomendo 'Do outro lado', de Fatih Akin.

(pausa para o jantar)

3 comments:

ovilha said...

endosso e compartilho a recomendação a "Do Outro Lado", filme que se permite narrar e o faz além e aquém da superfície. quanto ao shepard (com e sem altman), só posso falar alguma coisa daqui a alguns meses.

ovilha said...

ps. um beijo!

Gustavo Barcamor said...

Será que sua dúvida não parte da comparação?

O que bons diretores fazem quando pretendem adaptar (pelo menos a meu ver) é desconstruir para reconstruir, pois sabem que a linguagem afeta direta e profundamente a narrativa de uma história. Além do mais, existe a visão deles de que uma história não é uma mera sucessão de fatos, mas (em suma) a discussão de algo, de uma opinião, e se a certo ponto acham que puderam dizer o que queriam, então o que há mais para dizer...

Acho que nunca vi diretor "representar" uma história... Eles sempre constroem seu próprio mundo a partir de algo que existe noutra linguagem... O livro "Laranja Mecânica" tem um final muito otimista. Kubrick simplesmente fez de um trecho pessimista e mesquinho da história original o final de seu filme... O fim triste de "Adeus às Armas", com o protagonista caminhando na rua chuvosa e escura, em filme tornou-se um indivíduo caminhando para um horizonte ensolarado e esperançoso...

Acho que tentar compreender a visão do diretor é uma forma de comunicar-se com o filme... Normalmente, apesar de emocionados, ficaríamos chateados pelo final de "Luzes da Cidade" não ser mais detalhado, mas se refletirmos sobre que tipo de amor Chaplin fala no filme todo, ele se torna absolutamente perfeito.

Belo post!
Queria ver esses filmes! (-:
Beijos!