O sexo não explicitado. Sinceramente, pouco importa a parcela de intenção sexual presente em seus olhares a mim direcionados: jamais foram explicitados. Poder-se-ia dizer que é mero cavalheirismo, ou, pior, quão galanteador ou cafajeste você é. Mas não, nada disso: calado. Ainda que sensual, tenho certeza que nosso contato jamais se desenrolaria no entrelaçar de corpos embriagados ou apaixonados. Ainda que revestido de tensão sexual, interrompido por vermelhos e calor a percorrerem os corpos e o ambiente e conduzido por silêncios meus outrora impensáveis – que a olhos inábeis seriam o entendimento sutil da expressão do desejo –, ausente o toque. Ausente qualquer possibilidade de toque. O sonho de suas mãos sobre as minhas, o desejo do toque, o ímpeto de acompanhar, com meus dedos em movimentos sutis, seus desenhos, a impressão permanente de seus traços em minhas retinas: nada. Não é ausência de vontade, jamais fora ausência de desejo meu. É ausência, intransitivo, incompleto e incompletável. Ausência.
Confesso, sua história a tal ponto me encantou que desconfiei, confesso, desconfiei de sua veracidade. Envergonho-me mais pela importância por mim atribuída à desconfiança do que pela desconfiança em si. Nua e crua (o desejo de sentir seus ossos em minha pele), a desconfiança da veracidade é o papel principal de uma peça de teatro mainstream, eu diria. Ou de qualquer teatro político que se reivindique brechtiano, dizem. A vergonha daí depreendida, por mim, é mais do que o desejo da unicidade; é expressão escamoteada de busca infinita pela incoerência. O anseio do reconhecimento pela totalidade e da totalidade; e se toda totalidade engendra contradições, por que, em geral, busca-se o conhecimento de cada ladrilho da casa, em detrimento da apreensão consciente do processo de construção como um todo?