Subia os degraus do sobrado em silêncio, movimentos precisos na exata medida entre o soltar demais o corpo a cada passo e o tomar muito impulso a cada inspiração. Exalava equilíbrio, mas não durante as festividades. Não que precisasse extravasar, não comprava a balela freudiana – não por amargor ou insegurança, mas por outro tipo de incompatibilidade, que especialmente nesse fim de ano aflorou: beleza. Necessidade e desejo de beleza. Não via a beleza nas medições, nas solícitas contenções e dispendiosas contendas, não; a via nos extravasares. Drama barato a olhos insensíveis; profundo amálgama eu-Outro aos mais cuidadosos. Os desavisados que não suspeitassem da destreza em não calcular sentimentos até ofereciam mimos e regalos, que de bom grado aceitava, ruborizando. Mas o que solapara, nesse Natal o que solapou em água e flor toda encenação foi a percepção do permitir-se encantar.
Saturday, December 26, 2009
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