ela assumiu pra si o que queria, enfim, de mim. olhos marejados, tentei em vão explicar que o mundo pesa demais, não exija certezas de mim, te garanto minha sinceridade por alguns segundos latejantes, antes de suas dissoluções no não-nosso tempo-espaço. observei seus passos sem saber se decididos ou entorpecidos – pode a embriaguez preencher de solidez todo um gestual –, na noite tão clara e sem um farol. não foi difícil me levantar e seguir rumo, não. o peso já era outro, pelas pálpebras e lábios, mas não brotava do meu mais profundo interior, apesar de ir além do peso do mundo todo. sentia uma tristeza ritual, em resignada conclusão sobre a solidão (o esbarrar numa querida amizade em estado esfuziante me esquentou, sim, um pouco, – de leve – o coração). é que se desvencilhar, às vezes, é fácil demais. mas nem por isso menos triste.
Friday, March 12, 2010
Wednesday, March 03, 2010
mulher comum
sou uma mulher comum, como você. cruzo a avenida sob a pressão do imperialismo. poesia? cotidiana, embora em descompasso e corriqueiramente atropelada pelo ritmo do pau-de-arara. são nossos corpos de sonho e margarida que seguem, sangue e samba, enquanto gira inteira a noite sobre a pátria desigual. a vida nós a fazemos nossa, cantando em meio à fome e dizendo sim – em meio à violência e a solidão dizendo sim – pelo espanto da beleza. não digo que a vida é bela; tampouco me nego a ela – digo sim.
livre inspiração e adaptação, minha, sobre os poemas de ferreira gullar: 'homem comum' e 'digo sim'.
livre inspiração e adaptação, minha, sobre os poemas de ferreira gullar: 'homem comum' e 'digo sim'.
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