por causa de tati
fadel
preciso dos desertos e
é por isso que
atraso meu relógio
trabalho na madrugada
finjo que durmo quando
me beijas.
preciso dos desertos
para estar no mundo.
preciso dos desertos.
neles me permito,
neles me concentro,
neles flui toda
rebeldia que invento.
são emudecedores
estarrecedores
assombrosos;
só assim cuido da
casa,
reviso textos,
tomo coragem e saio de
casa,
pego o metrô,
trabalho.
o deserto é um gel no
meu cabelo
um sobretudo em clima
ameno
abundância de moedas
empilhadas na estante
o deserto contém meus
livros
e a concentração para
lê-los
o deserto expulsa notas
comprovantes recibos
e seus bilhetinhos de
amor.
no deserto estou só,
sem reconhecimento
nem possibilidade,
sem alarme nem surpresa
nem quentura de
companhia
pra suportar o peso do
mundo
deserto, preciso;
assim precisa ser.
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