Este ensaio deve se localizar em qualquer lugar entre o drama poético e o jogo político. O que me move é puro interesse: nada além do despertar sensações no extremo positivo diametralmente oposto ao pólo da indiferença. Posso argumentar que o interesse me foi incutido a partir de experiências de vida – genuinamente minhas ou por mim reivindicadas, o que, no fundo, dá no mesmo –, ainda que a concretude da experiência seja transversal, secundária ou mesmo suspensa em momentos alguns – o que, novamente, dá no mesmo. Vou procurar, aqui, levantar algumas questões que me sugerem relações intensas entre si, mas cujas formulações [das relações] me têm sido particularmente difíceis. Este ensaio servirá como um aglutinador desses meus questionamentos, temáticas e problemáticas, como uma junção de anotações esparramadas em cadernos e permeadas por flechinhas e outros desenhos, na dificuldade de elaboração mais clara que permita uma comunicação. Vejamos quão bem-sucedido poderá ser meu intento – considerar-me-ei satisfeita se vislumbrar entendimentos e, no horizonte, futuros frutíferos para as discussões aqui delineadas.
A angústia primeira que me impele a escrever é a tensão entre ação e estrutura, entre o poder desistoricizante do provável e a potência criadora do possível, que esbarra, por sua vez, nos limites da própria história, quando não nos limites da imaginação. Quanto da imaginação é de fato desafiante? Ou, ainda, quanto é possível subverter estruturas a partir de ações, sejam elas individuais ou coletivas? Suspender expectativas é subverter estruturas? É possível subvertê-las individualmente? E em quê consiste essa subversão? No questionar o que se vive? No adquirir autonomia sobre si? Autonomia perante quem, ou o quê? Autonomia de pensamento, de ação? Mas aprendemos que as idéias não caem do céu... A autonomia só poderia ser, portanto, condicionada – o que nos remete novamente a limites: qual é o limite das condições? A questão entre expectativa e coerência no desenrolar de sua própria história individual se mescla com as limitações do livre-arbítrio e a vida em coletividades e sociedade. Por fim, há que se fazer a ressalva de que muitas divisões aqui feitas são metodológicas; no fundo, parece-me no mínimo purista desejar encontrar desejos genuínos, sem influência contextual – quer em níveis pessoais e privados (história de vida de cada um), quer em níveis sociais e históricos.
Há alguns eixos centrais de idéia: política, ação, magia, história. Tentarei começar pelo primeiro. Como se desperta meu interesse em discutir política? A partir de contradições experienciadas, escancaradas, pressupostas, veladas. A partir da aparente aceitação generalizada de injustiças, ou, pior, ao ver, ao meu redor, aceitação – desprovida de angústia – das contradições. A mim, a angústia vem da repetição incessante de mortos de fome no mundo inteiro, ao lado de crescentes avanços científicos na produção de alimentos. Vem da grande mídia, quando se noticiam guerras em termos de perda de ‘recursos humanos e econômicos’ – não necessariamente nessa ordem. Vem acompanhada de revolta quando uma amiga muito querida me relata como foi expulsa de um barzinho, numa sexta-feira à noite, após beijar a namorada. Quando, numa recente visita a uma ocupação do movimento de moradia, uma moradora de um prédio vizinho, de classe média, diz que ‘também tem dó’ daquelas pessoas, mas que elas ‘preferem ficar ali’, não merecem melhorar de vida, porque não batalham pra isso. A angústia é inversamente proporcional ao sucesso da comunicação, e, nesses momentos, tudo o que consigo é silêncio assimétrico, não compartilhado e sequer reconhecido como comunicação suprema.
A angústia primeira que me impele a escrever é a tensão entre ação e estrutura, entre o poder desistoricizante do provável e a potência criadora do possível, que esbarra, por sua vez, nos limites da própria história, quando não nos limites da imaginação. Quanto da imaginação é de fato desafiante? Ou, ainda, quanto é possível subverter estruturas a partir de ações, sejam elas individuais ou coletivas? Suspender expectativas é subverter estruturas? É possível subvertê-las individualmente? E em quê consiste essa subversão? No questionar o que se vive? No adquirir autonomia sobre si? Autonomia perante quem, ou o quê? Autonomia de pensamento, de ação? Mas aprendemos que as idéias não caem do céu... A autonomia só poderia ser, portanto, condicionada – o que nos remete novamente a limites: qual é o limite das condições? A questão entre expectativa e coerência no desenrolar de sua própria história individual se mescla com as limitações do livre-arbítrio e a vida em coletividades e sociedade. Por fim, há que se fazer a ressalva de que muitas divisões aqui feitas são metodológicas; no fundo, parece-me no mínimo purista desejar encontrar desejos genuínos, sem influência contextual – quer em níveis pessoais e privados (história de vida de cada um), quer em níveis sociais e históricos.
Há alguns eixos centrais de idéia: política, ação, magia, história. Tentarei começar pelo primeiro. Como se desperta meu interesse em discutir política? A partir de contradições experienciadas, escancaradas, pressupostas, veladas. A partir da aparente aceitação generalizada de injustiças, ou, pior, ao ver, ao meu redor, aceitação – desprovida de angústia – das contradições. A mim, a angústia vem da repetição incessante de mortos de fome no mundo inteiro, ao lado de crescentes avanços científicos na produção de alimentos. Vem da grande mídia, quando se noticiam guerras em termos de perda de ‘recursos humanos e econômicos’ – não necessariamente nessa ordem. Vem acompanhada de revolta quando uma amiga muito querida me relata como foi expulsa de um barzinho, numa sexta-feira à noite, após beijar a namorada. Quando, numa recente visita a uma ocupação do movimento de moradia, uma moradora de um prédio vizinho, de classe média, diz que ‘também tem dó’ daquelas pessoas, mas que elas ‘preferem ficar ali’, não merecem melhorar de vida, porque não batalham pra isso. A angústia é inversamente proporcional ao sucesso da comunicação, e, nesses momentos, tudo o que consigo é silêncio assimétrico, não compartilhado e sequer reconhecido como comunicação suprema.
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