no início, sentira asco. não pelo odor, nem pela aparência; mas pela sensação de sentir o sebo em sua pele. as experiências com a pele transcendiam-lhe o sentido do êxtase e da lucidez. escrevia na pele; ensaiava o mundo e a vida; cobria-se com roupas comuns. subvertia qualquer comunicação. gravurava em si delicadezas e agressões em níveis de que só ela tinha plena compreensão. o brilho de olhos e a unha imunda. ia à padaria, trabalhava no jardim, tecia amigos invisíveis. mente em brasa e corpo em flor.
Monday, May 31, 2010
Saturday, May 22, 2010
quarta ou quinta-feira
na manhã clara, ressonância do sonho e acalanto de fundo, passo por mulheres e homens. destemidos, seguem obstinados o caminho corriqueiro ou excepcional. extraordinariamente, o sol se movimenta ao centro, e, ao centro e avante, também eu continuo, e valseio num assobio.
Wednesday, May 05, 2010
livro de artista
Retumba dentro de mim
qualquer coisa de dispersa -
me rouba tempo e saúde.
Não temo a toada voltar,
à galope, tato ou luz.
Cabe saudação ao tempo,
quando em mim, mulher no cio,
um balanceio arredio
(susto percussionado)
desafia em sina e trato
e em quentura, cirandeia
meu encantamento vadio.
qualquer coisa de dispersa -
me rouba tempo e saúde.
Não temo a toada voltar,
à galope, tato ou luz.
Cabe saudação ao tempo,
quando em mim, mulher no cio,
um balanceio arredio
(susto percussionado)
desafia em sina e trato
e em quentura, cirandeia
meu encantamento vadio.
Tuesday, May 04, 2010
tensão
caminhava entretida com tantos faróis que nem me dei conta que a subida acabara; ele me deteve pelo braço: 'é aqui'. nos despedimos, agradeci a gentileza dele ter me acompanhado, e encarei o prédio. não era tão assustador; seus 17 andares com dez janelinhas por andar me lembraram um documentário que havia visto na véspera, sobre o cotidiano num prédio não tão nobre numa região não tão decadente de outra grande cidade.
no estômago, o suco de abacate carregado no açúcar me nauseava; e qualquer música dançante dos anos 70 insistia em anacronicamente me acompanhar.
fumei algo entre um e três cigarros, esperei pelo tempo duma ambulância passar, e dos letreiros luminosos da farmácia oscilarem - era muita demanda de energia pra um lugar só.
telefonei: 'oi, tô aqui embaixo'.
'já tô descendo', era o ponto de não-retorno.
no estômago, o suco de abacate carregado no açúcar me nauseava; e qualquer música dançante dos anos 70 insistia em anacronicamente me acompanhar.
fumei algo entre um e três cigarros, esperei pelo tempo duma ambulância passar, e dos letreiros luminosos da farmácia oscilarem - era muita demanda de energia pra um lugar só.
telefonei: 'oi, tô aqui embaixo'.
'já tô descendo', era o ponto de não-retorno.
feriado
sonhei com teletransportes e gente vestida a rigor ao ar livre. era um dia frio na sombra, com sol que aquecia a pele por veias dos ramos das árvores viçosas. as pessoas sorriam sinceras, era um sonho bonito e cheio de calor.
acordei sem saber onde estava, sabe como é? que dia é hoje? do mês? da semana? que horas são? mas não é quarta-feira? jurava que a cama era virada pr'outro lado... como esse armário veio parar aqui? (aturdida, sei que falei, os olhos ainda fechados - não havia armário algum).
a resposta veio d'outro corpo, num antebraço macio dono de todo o sentido do mundo.
- bom dia.
acordei sem saber onde estava, sabe como é? que dia é hoje? do mês? da semana? que horas são? mas não é quarta-feira? jurava que a cama era virada pr'outro lado... como esse armário veio parar aqui? (aturdida, sei que falei, os olhos ainda fechados - não havia armário algum).
a resposta veio d'outro corpo, num antebraço macio dono de todo o sentido do mundo.
- bom dia.
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