Thursday, November 04, 2010

corazón

tirei o relógio de parede que ficava na sala de casa. dependurei, tirei as pilhas e o abandonei em cima da pilha de revistas (intocadas há semanas). podia ser o seu cheiro, ou outro, tanto faz, que o tic-tac do relógio me trouxesse. mas não traz mais nada. como pode um objeto ter ou não ter história, aflorar-nos tanto na memória? tirei também o pó de um ou dois dias acumulado nos santos que circundavam meu cantinho espiritual. suspirei, sim, não tem como abrir o coração sem suspirar. às vezes abre-se sem sequer a intenção de vasculhar, mas os suspiros afloram e se fosse diagnosticar eu diria: cardiopatia grave, porque o coração retumba e ecoa, e a respiração muda (arfante ou contida, passa-se a percebê-la, e respiração é dessas coisas que quando se percebe é porque chama a atenção, e se chama atenção é porque algo de extraordinário há, e se é extraordinário pode bem ser errado, e aí nos preocupamos, quando é com alguém querido, e suspiramos, quando é dentro da gente, mesmo, porque o suspiro é o diagnóstico que o próprio coração dá à cardiopatia). virei-me, abri as cortinas, não teve brisa a brindar-me: é verão neste hemisfério, e as noites cada vez mais densas.

1 comment:

°°Bella°° said...

Me reconheço no relógio da sua parede!! rs