meu tempo é o abafado
das caixas de sapato
de bico-fino sob outras
caixas tantas
que se logra abrir com
cuidado
em tardes amenas,
antevésperas de
grandes eventos.
meu tempo é o embaçado
desigual da vidraça do banco de trás
quando as crianças
fazem apostas mentais sobre a corrida das gotas de chuva
e desenham até onde a
mão alcança
repetidas sempre vezes
e a gordura se
encrusta.
meu tempo é o
encurvado de uma persiana
da janela central de
uma pequena casa
onde por apreço à
claridade essa persiana não tem uso
e seus cantos suspensos
sustentam
o bicho todo, envergado
em simetria.
meu tempo podem ser
coleções comuns
como vinis empoeirados,
promoções de
salgadinho,
pontas de lápis,
papéis.
desde que tão
bem-guardadas,
lembresquecidas
como os entres, os
desiguais, os desusos,
em que a sutileza
impera e desarma mas
pungentes que são, não
perdoam.
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