Tuesday, May 26, 2009

nem balzac

a caio fernando abreu, pode?

tá, então, vamos lá. é um tal de abrir janelas mas manter cortinas próximas, um ou outro vão de luz só que é permitido, tem que ter cuidado, as sutilezas. abafamento. os lascivos feixes de luz entram carregados de pó acumulado naqueles excessos de tecido. e então é um tal de hospital, de bolo na garganta e pernas bambas, e a obstinação carregada de responsabilidade e certeza, mas a mão trêmula denuncia qualquer outra coisa na curva para avistar a entrada do quarto, boa tarde, como vai, beijo na mão, abraço, carinho. e é um tal de sexo casual, ligações breves cheias de dedos, as sutilezas, as sutilezas. são músculos doloridos no início da semana, uma ou outra coceira no corpo ardido que pede arrego, a densidade dos cheiros no lençol, nos livros por terminar, qualquer coisa que impregna, quarta, quinta-feira. e então correm boatos, são desejos, é o trabalho de manhã, reunião, café e alguns gostos que se misturam, azedo, amargo?, laterais da língua. e é comida de mãe, é varar a madrugada, quisera ao som de um blues ou bolero, é varar a madrugada com as pálpebras queimando. não é choro, nem tesão. é a tensão entre crítica e resignação. todas as noites, até adormecer; todas as manhãs, esforço hercúleo pra levantar. e levanta, que o mundo não tarda, e cutuca.

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