Tuesday, June 02, 2009

compulsão

polícia civil do estado de são paulo. quinze minutos de espera, nem dá tempo de imergir na leitura. uma bicicleta esbaforida fura a fila, beleza, agora eu termino um parágrafo. café ou chá?, tanto faz, desde que seja puro, é só o costume. não tem canetas nem papéis em cima da mesa, nem copinhos descartáveis ou lixeiras. não tem cenário. não tem choro, olhos vermelhos nem desgraça, nada do que deveria ter numa delegacia de romance com discoteca e cavalos-de-pau. nem tem greve, nem sarna. tem um funcionário público, pra não dizer que é deserto. não é melodrama, nem melancolia bucólica; claro que é burocratizado, mas isso não vem ao caso. ele é todo bem-humorado, usa uns óculos modernos, um cabelo já ralo, podia ser meu pai, mas não. olha nos olhos, tem o jeito de digitar de curso de datilografia, os punhos não saem do lugar. invejo; meu jeito de digitar é displicente e sem método, será isso também testemunho do meu tempo?, ele só usa maiúsculas, e nós as minúsculas, também isso?. sem saber, me afeiçôo, ele se afeiçoa, é mais do que compaixão ou cumprimento de protocolo. as piadinhas desanuviam, assino as cinco vias, antes eram nove, nem sei pra onde ia tudo, e me conta, eu perguntei, pra onde vai cada uma das cinco vias. maravilha de sistema; preciso também de um método. comece deixando de andar desacompanhada em vias escusas. os papéis voltam com a assinatura do superior. obrigada, boa sorte, tudibom. despedida on the rocks e a respiração se aprofunda. agora é o carro meio sujo, meio bagunçado, com o pneu dianteiro um pouco murcho, e um toca-fitas, no século vinteum, cantando uma emepebê de outra década, depois um rock rural e a velocidade constante. diminuída pros pedestres passarem.

1 comment:

Mari Carrara said...

oi! vi vc no "identificador" do orkut (primeiro retorno positivo em cinco dias de ativação)e vim parar aqui. amei. de verdade! quando eu tiver mais tempo vejo mais. (tudo em minúsculas)