Tuesday, June 23, 2009

Mãos nos bolsos (Fragmentos I)

Não sabia, ou devia saber, do momento exato em que iria passar; levantei os olhos, a frase suspensa, encontrei os dele, mas ele não. Varou o pátio na altivez inconfundível, a magreza acentuada pela saúde débil e os recentes traumas, associados a vícios típicos, como o café e o cigarro sem filtro. Terminei a frase e perdi a linha do raciocínio, assumi: teria de reler todo o capítulo imersa em alguma concentração cujas possibilidades reais de existência tendiam a zero nesse momento.

Os espaços de convivência da Universidade andavam vazios no meio da tarde. Encheram de tardezinha, naquele dia, hora do teatro das dramáticas decisões políticas. Alguém podia ter levado um chimarrão ou café em garrafa térmica, para fazer jus à tipificação em curso por aqui, e, de quebra, combater o frio. A assembléia daquela tarde discutiria o estado da arte da mobilização estadual, e a greve, sim, companheiros, estamos em greve. O cenário é o já conhecido: alguns levantando as vozes no desespero de se fazer ouvir, entoando os pressupostos compartilhados e enterrando os dissonantes. Pois que há que se discutir, mas não agora. Os pressupostos, discute-se em mesa de bar, conversa miúda, mão por sobre o ombro, aperto firme na jaqueta, cigarro cedido, e o isqueiro.

Dá até pra discutir pressuposto no café-da-manhã, Betânia ao fundo, os corpos enebriados, ainda, da noite-vigília. Encanto erótico e amor é prato cheio pra discussão política: o mundo é encantado, então. E uma bebida quente pela manhã.

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