não que ela não fosse vaidosa; remendava todas as calças suas com fazendas de cores de fundo harmonizando as vestes surradas, e nunca repetia um vestido dois domingos seguidos, fosse para andar na praça, ir à missa, ficar de viés no portão. e não que ela não tivesse seu charme; tinha uma beleza tão pueril e o rosto queimado do vento do outono e tinha também qualquer coisa de triste dessas mulheres cientes da sua dita condição. e das dores rotas ansiando por qualquer escancaro de alma que trouxesse alento. mas mesmo assim, ela se repetia. saía todas as noites, voltava às vezes mais cedo, às vezes depois de almoçar uns cigarros. esticava as meias rasgadas no mínimo três noites seguidas, às vezes ganhava uma nova. e mesmo assim, se repetia. alternava as sextas-feiras entre banco, correio e cemitério, nas todas comunicações e cumprimentos de expectativas. a missa era quase domingo sim outro não. na saída, aproveitava almoçar com a mãe, lavava toda a louça divertia a sobrinha já engatinhando. mas mesmo assim. repetia. solidão é para os fracos. e segunda-feira, ninguém sabe, café preto e a sorte na esquina.
Thursday, August 13, 2009
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1 comment:
breves narrativas como bólidos contundentes, quase perfeitos como o quase quadrado da diagramação (acidente? convergência?). e o melhor é o quase.
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