a poesia?
vai tão encrustrada em mim
(você que a assim deixou)
que já não a percebo,
os dias passam conta-goteando. desde que você partiu.
quer dizer
– você sabe porque as noites tem sido tão claras?
eu não prego o olho e culpo a lua
e pode chover e a lua pode
se nublar que continua
o clarão e o barulho da chuva no telhado
parece seu sibilo
eu quase arrepio
inspiro e seguro o lençol sob o queixo
embolo meus pés no cobertor
e encarinho-me o rosto antes do espreguiço.
expiro e você é quase um holofote
e não sinto meu estômago porque em sonho (quando há) seu perfume me
[enche d'água e me cega e acordo e tateio
e verto em mim o que há na mesa de cabeceira e me resfrio
e não há barulho que distraia
silêncio que entorpeça
palavra que instigue ou aconchegue
tanto quanto as suas doçuras irreveláveis.
então sigo meu dia e pinto e escrevo
pra você escrevo uma confusão de perfumes
e tento pintar outro silêncio
que não aquele seu de dizer amores e preencher
mas o silêncio que pinto não te tem e não me tem e não há cores e só há água
há água e desidratração e me lembro
– não se esqueça de respirar
, e respiro
mas se respiro me inflo de cores que só a nós pertenciam,
e eu não sei tê-las sem você. então
respiro e sou só edema. não há extravasares, não há quem contenha. me
[inflo.
e à noite choro, e a lua clara holofote é tanta e insiste
e machuca meus olhos já tão secos. e sou toda secura, então,
também em garganta e suor (que seca o dentro) e coração cansado e me
[esqueço das outras partes do corpo
deito exausta e se fecho os olhos ardem
quem dera de tesão quem dera
de choro ou cansaço. ardem de não saber mais nosso encontro, como arde
[meu dorso todo de não saber mais seu toque
e me assombra seu sorriso e preciso segurar minha cabeça com as mãos
e não respirar
e você é toda-beleza e com ternura me pergunta
e me assombra seu rosto seus músculos suas contrações sua pergunta
me assombra sua pergunta
de como anda a poesia.
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1 comment:
O meu com dedicatoria, por favor.
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